Migração e refúgio: conheça mais sobre a professora Nazareth, da Abraço Cultural

17.02.2025

Professora Nazareth em entrevista sobre refúgio e migração

O refúgio e a migração são direitos humanos que trazem consigo diversos desafios e oportunidades. Conhecer a trajetória de pessoas em refúgio no Brasil através dos professoras da Abraço cultural é uma forma de entender como a educação pode ser um caminho de reconstrução e pertencimento. 

Para isso, realizamos uma entrevista com uma de nossas professoras para conhecer mais sobre a história de uma das pessoas que nos ensinam todos os dias. 

Conversamos com Nazareth Sojo, professora de espanhol, que veio da Venezuela e encontrou nas salas de aula da Abraço Cultural um espaço para compartilhar sua cultura e transformar vidas. Confira a seguir:

O que você gostaria de compartilhar com as pessoas sobre a sua história de migração?

Nazareth: “Minha migração foi em 2018, na época em que meu povo venezuelano tinha muita fome. Foi uma época em que todo mundo começou a sair do país caminhando… Foi um período em que não tinha nota, não tinha dinheiro nem nada para troca. Aí, em uma situação desesperada, eu tomei a decisão de vir embora… Aqui eu fui acolhida por uma grande amiga, fiquei na casa dela cinco meses até eu achar um emprego… A primeira coisa que eu destacaria é a facilidade de ter documentos para começar a trabalhar na hora. Isso é muito importante porque sempre que eu ia procurar emprego me perguntavam se eu tinha documentos, pelas leis trabalhistas. É muito importante termos documentos e também muito importante a acolhida do povo brasileiro.”

Quais foram os maiores desafios ao chegar ao Brasil e como acredita que conseguiu lidar com eles?

Nazareth: “Meu maior desafio foi achar emprego. Não é segredo que aqui em São Paulo se acha muito emprego por indicação… E aí ninguém me conhecia e era literalmente um voto de confiança pra eu fazer meu serviço bem. Eu tive esse voto de confiança e consegui lidar pensando que alguém ia ver minhas capacidades… Uma vez que eu superei aquela barreira, eu rapidamente comecei a ter famílias, né? Num emprego eu tinha uma família, depois outra pessoa me contou sobre a Abraço, e foi indo…”

Como conheceu a Abraço Cultural? O que chamou sua atenção na proposta da instituição?

Nazareth: “Eu estava fazendo umas fotos para um coletivo de publicidade de pretas para uma campanha de uma grande amiga publicitária… Aí ela conhecia a coordenadora pedagógica da época, e eles estavam procurando novos professores de espanhol e de várias áreas… Quando eu tive o curso de iniciação que eu conheci e vi que era uma ONG que dava trabalho para imigrantes, que era pra ser professor… Aí quando eu tive a aula cultural, e consegui fazer minhas arepas depois de tanto tempo, tinha um ano sem comer minha comida, e fazer com meus alunos no ambiente da Abraço… Acho que eu me apaixonei pelo projeto na medida em que fui vivendo ele.”

O que você considera único ou especial na Abraço Cultural?

Nazareth: “Que eu consigo falar de mim… Que não é só aula de gramática, eu consigo falar da minha cultura, de religião, de política, consigo falar de qualquer coisa que é minha. Eu consigo me compartilhar com meus alunos… Eu consigo passar essa visão de que não é apenas aprender um idioma, mas também entender nosso jeito de ser… O que eu acho único é que consigo dar aulas compartilhando sobre mim mesma, sobre a minha cultura.”

Como você diria que sua experiência como pessoa em refúgio transformou sua vida e visão sobre a migração?

Nazareth: “Eu achava que minha história era dura demais, até que comecei a escutar histórias dos meus irmãos, que hoje não são apenas colegas de trabalho, são meus irmãos depois de tantos anos… Tem países que têm problemas políticos, sociais e culturais muito mais profundos, e que a migração é um fato desesperado quando se tem fome, ou agonia pela ameaça de morte… Então, eu entendi que não é uma simples escolha de vida, é uma necessidade. E a gente consegue levar tanta dor e separação de tudo que você conhece e ama, quando você consegue amar onde você está e as pessoas que ali estão. Fez toda a diferença o fato de eu ter uma família que eu possa contar… Até casei aqui no Brasil e meus irmãos da Abraço fizeram presença… Minha família não conseguiu vir, mas eu ainda estava em família, isso pra mim foi incrível.”

Há algo que sonha realizar no Brasil e/ou no seu país de origem?

Nazareth: “Aqui no Brasil eu espero voltar às aulas universitárias, espero dar aulas na faculdade como dava no meu país… Se eu pudesse dar aulas na faculdade, acho que estaria resolvida aqui no Brasil… No meu país, o sonho que ainda espero realizar é votar, exercer um direito civil e conseguir ver o candidato mais votado vencer.”

Que conselho ou mensagem daria para outras pessoas em situação de migração forçada que chegam ao Brasil em busca de novas oportunidades?

Nazareth: “A primeira coisa é se abrir ao poder fazer muito mais. Às vezes a gente vem com uma caixinha de ‘eu sou isso e faço isso’… A primeira coisa é se abrir, se permitir e descobrir habilidades para ganhar a vida… A segunda coisa é você não achar que está sozinho. Por muito tempo eu me senti sozinha ficando em companhia. Mas eu nunca estive sozinha, às vezes essa sensação de solidão vem pela falta da família. Mas quando eu me dou conta, tenho muitas pessoas amigas no Brasil… Quando você se permite compartilhar tudo isso, o resultado é maravilhoso.”

Assim como Nazareth e sua história inspiradora, milhares de pessoas migram ao redor do mundo trazendo consigo os mais variados cenários, contextos e necessidades. A empatia e a acolhida dessas pessoas é uma abertura para a descoberta de novas realidades, culturas e experiências. 

Apoie a causa do refúgio, incentive projetos de acolhimento e integração e cobre atuações políticas que assegurem o pleno exercício desse direito. E se você possui interesse em aprender mais do que um idioma, com imersões culturais e trocas de experiências em sala de aula, saiba mais sobre a atuação da Abraço Cultural e aprenda enquanto apoia essa causa. Vem pra Abraço! 


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