
O sucesso de “Ainda Estou Aqui”, filme brasileiro dirigido por Walter Salles, marcou um momento histórico para o cinema da América Latina. Além de garantir a Fernanda Torres o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama, a produção conquistou o primeiro Oscar da história do Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional.
Mais do que isso, tornou-se a primeira obra sul-americana a ser nomeada como Melhor Filme. Com isso, o mundo voltou sua atenção para os filmes latinos e a riqueza cultural de um continente repleto de histórias para contar.
“Ainda Estou Aqui” retrata a história de Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, um político que desapareceu durante o regime militar no Brasil, no ano de 1971. Para além da tragédia pessoal da família Paiva, o filme explora as consequências e o impacto da ditadura na vida de milhares de brasileiros.
O reconhecimento de “Ainda Estou Aqui” reforça a importância de olhar para o passado e relembrar as narrativas que moldaram a nossa história e cultura. É tempo de valorizar o nosso povo, abraçar a nossa pluralidade e contar nossas histórias. Por isso, selecionamos cinco filmes latinos baseados em fatos reais que vão te impactar.
Roma (2018) — México
Considerado uma obra-prima do cinema latino, Roma (2018), dirigido por Alfonso Cuarón, venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza. No Oscar 2019, ganhou três estatuetas, incluindo Melhor Diretor para Alfonso, Melhor Filme Estrangeiro (o primeiro do México a levar esse prêmio) e Melhor Fotografia. Além disso, foi indicado a Melhor Filme, sendo o primeiro filme de língua espanhola a disputar essa categoria.
Roma é considerado um filme semi autobiográfico inspirado na infância do cineasta no México dos anos 70. A história acompanha Cleo, uma mulher de origem indígena que trabalha como babá e empregada doméstica na casa de uma família de classe média, no bairro de Roma, na Cidade do México. O filme retrata como acontecimentos pessoais e sociais podem interferir na trajetória de toda uma família e na de Cleo.
O longa também relata as transformações políticas daquele ano no México, como o Massacre de Corpus Christi, um episódio real ocorrido em 10 de junho de 1971, no qual paramilitares abriram fogo contra estudantes que protestavam contra o governo.
Alfonso Cuarón dedicou o filme a Libo, uma mulher indígena que passou a trabalhar para sua família quando ele ainda era bebê. Sua trajetória foi a principal inspiração para a história do filme latino.
Marighella (2021) — Brasil

Marighella (2019), dirigido por Wagner Moura, retrata a vida de Carlos Marighella, político, escritor e guerrilheiro que liderou a resistência armada contra a ditadura militar no Brasil. O filme apresenta de forma intensa e envolvente a trajetória do revolucionário, interpretado por Seu Jorge, que desafiou o regime com suas ideias e ações, tornando-se um dos maiores inimigos da repressão.
A narrativa acompanha os últimos anos de Marighella, mostrando sua luta incansável contra a censura e a opressão, ao lado de outros militantes, enquanto enfrenta a perseguição brutal das forças militares. O filme expõe não apenas o contexto político da época, mas também os dilemas pessoais e as consequências da resistência armada, abordando temas como racismo, violência do Estado e a luta pela democracia.
Com uma abordagem intensa e cinematograficamente impactante, Marighella resgata uma parte fundamental da história brasileira, trazendo reflexões sobre autoritarismo e resistência que permanecem atuais.
Pájaros de Verano (2018) — Colômbia

Pájaros de Verano (2018), dirigido por Ciro Guerra e Cristina Gallego, conta a história real do envolvimento da comunidade indígena Wayúu no narcotráfico colombiano durante as décadas de 1960 e 1970.
O filme busca resgatar uma página pouco explorada da história latino-americana: a dualidade e o impacto do narcotráfico nas culturas indígenas e tradicionais da Colômbia.
A trama acompanha Rapayet (José Acosta), um jovem Wayúu que, para se tornar rico e casar com a mulher que ama, se envolve no tráfico de maconha da região, desencadeando um conflito interno contundente entre sua ancestralidade e a ganância.
Aclamado internacionalmente, Pájaros de Verano foi o filme selecionado para representar a Colômbia no Oscar 2019 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro e recebeu prêmios em festivais como o Festival Internacional de Cine de Morelia e o Havana Film Festival.
Carandiru (2003) — Brasil
É impossível falar de filmes latinos e não citar Carandiru (2003), dirigido por Héctor Babenco. O filme é baseado no livro Estação Carandiru, do médico Dráuzio Varella, que relata seus 10 anos de atendimento no extinto presídio.
Com um elenco aclamado composto por Rodrigo Santoro, Sabotage e Wagner Moura, o filme conta histórias reais de presos que, apesar de viverem em uma realidade moldada pela violência e pela miséria, conseguem formar laços pautados na empatia e na amizade para sobreviver às condições precárias do sistema carcerário.
Também trazendo à tona uma das maiores tragédias do Brasil, o longa narra os acontecimentos que precederam ao massacre de 1992, quando uma intervenção policial resultou na morte de 111 detentos.
Aclamado por sua abordagem crua e realista, Carandiru foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e venceu prêmios no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, incluindo Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado.
1985 (2022) — Argentina

E para fechar a nossa lista de ouro de 5 filmes latinos baseados em histórias reais: 1985 (2002), dirigido por Santiago Mitre, revive um dos episódios mais emblemáticos da história argentina: o Julgamento das Juntas Militares, que levou à condenação dos comandantes responsáveis pelos crimes da última ditadura (1976–1983).
A trama acompanha Julio Strassera (Ricardo Darín) e Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), os dois promotores públicos responsáveis por enfrentar o regime militar recém-derrubado e levar seus opressores à justiça por sequestros, torturas e assassinatos cometidos contra civis.
Sem apoio institucional, sob constante pressão e passíveis de ameaças externas, Strassera e Moreno reúnem uma equipe jovem e determinada para enfrentar um dos processos mais importantes da América Latina, denunciando os crimes de lesa-humanidade cometidos pelo regime.
1985 (2022) conquistou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, o prêmio FIPRESCI no Festival de Veneza e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional.
Os filmes latinos têm o poder de dar voz a histórias que não podem ser esquecidas. Cada um desses filmes não somente retrata eventos reais, mas também convida à reflexão sobre o passado e suas consequências.
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