6 obras para conhecer a literatura indígena brasileira

29.07.2025

A literatura indígena brasileira tem ganhado cada vez mais visibilidade, revelando uma diversidade de vozes, línguas, cosmovisões e histórias que enriquecem a cultura nacional. 

Muito além dos livros escolares e da visão estereotipada que ainda persiste sobre os povos originários, essas obras trazem à tona os seus saberes ancestrais, resistência, poesia e identidade. Conhecer a produção literária de autores e autoras indígenas é um passo fundamental para valorizar a pluralidade cultural do Brasil e entender as raízes que compõem nossa história.

Neste espaço, você vai conhecer cinco obras da literatura indígena brasileira, todas escritas por autores originários, que abordam temas como ancestralidade, identidade, memória, mitologia, espiritualidade e o diálogo entre natureza e mundo urbano, concepção que difere muito da dicotomia que herdamos da colonização. Essas leituras são indicadas para todas as idades e podem ser trabalhadas em diferentes contextos educacionais, contribuindo para uma educação antirracista e decolonial.

1. Ay Kakyri Tama: eu moro na cidade – Márcia Wayna Kambeba

A obra Ay Kakyri Tama é um livro de poesias escrito por Márcia Wayna Kambeba, mulher indígena do povo Omágua/Kambeba, poeta, ativista e doutora em geografia. Com forte caráter autobiográfico, os poemas traçam a ponte entre a origem amazônica da autora e a vida urbana em Belém do Pará. A obra reflete as contradições de viver entre dois mundos: a ancestralidade da aldeia e as exigências da cidade.

Além de destacar a resistência cultural em meio ao apagamento histórico, o livro propõe reflexões profundas sobre identidade, território e pertencimento. Márcia dá voz à realidade de muitos indígenas urbanos, mostrando que viver na cidade não significa deixar de ser indígena. Leitura recomendada para estudantes do ensino fundamental e médio, e também para educadores que buscam ampliar sua compreensão sobre refúgio e migração interna no Brasil.

2. Eu sou Macuxi e outras histórias – Julie Dorrico

Julie Dorrico é uma das vozes mais expressivas da literatura indígena contemporânea. Em Eu sou Macuxi e outras histórias, ela mergulha em memórias e vivências pessoais para compartilhar a trajetória de reconexão com o seu povo, os Macuxi, localizado na fronteira entre Brasil e Guiana. A obra é escrita em forma de poemas e explora os sentimentos de dor, saudade e pertencimento.

A linguagem poética e simbólica convida o leitor a refletir sobre o que significa ser indígena hoje. A leitura é potente para tratar temas como identidade étnica, ancestralidade e memória no contexto da América Latina, sendo ideal para projetos pedagógicos que queiram valorizar a cultura dos povos originários e desconstruir visões coloniais.

3. Mundurukando 2 – roda de conversas com educadores, Daniel Munduruku

Referência obrigatória quando se fala em literatura indígena brasileira, Daniel Munduruku é um dos principais autores e intelectuais indígenas do país. Em Mundurukando 2, ele apresenta uma coletânea de reflexões e crônicas que dialogam com educadores sobre o papel da escola na formação de um olhar sensível e respeitoso sobre os povos indígenas.

O livro é uma provocação à desconstrução de estereótipos e à revisão crítica do ensino da história do Brasil. Além disso, propõe atividades, indica filmes e traz textos que ajudam professores e alunos a compreenderem a complexidade dos povos indígenas brasileiros. Uma leitura essencial para quem atua na educação e busca inserir a literatura indígena de forma ética e profunda na sala de aula.

4. O povo Pataxó e suas histórias – Coletânea de autores Pataxó

Esta obra é resultado do trabalho coletivo de cinco professores indígenas Pataxó: Angthichay, Arariby, Jassanã, Manguahã e Kanátyo. O livro O povo Pataxó e suas histórias é um exemplo de como a literatura pode ser usada para preservar e transmitir os valores, crenças, tradições e saberes de um povo.

A coletânea apresenta contos e relatos sobre a cosmovisão Pataxó, sua relação com a natureza, com os espíritos e com o cotidiano na aldeia. Mais do que um livro didático, é um documento vivo da cultura Pataxó e um convite à escuta de narrativas que resistem há séculos. A obra pode ser utilizada em atividades de leitura, contação de histórias e oficinas de produção textual sobre histórias indígenas.

5. Falando Tupi – Yaguarê Yamã

Em Falando Tupi, o escritor e professor indígena Yaguarê Yamã apresenta de forma didática e envolvente a influência da língua tupi no português falado no Brasil. O livro é bilíngue e ilustrado, ideal para leitores a partir de 9 anos, e explica como palavras como jacaré, ipê e tatu fazem parte de nosso vocabulário, ainda que muitas vezes ignoradas em sua origem.

A obra é uma excelente ferramenta pedagógica para discutir a tentativa de apagamento das línguas indígenas durante a colonização e para valorizar os idiomas originários como parte integrante da identidade brasileira. Pode ser trabalhada em aulas de português, história e geografia, além de contribuir com a valorização da literatura indígena brasileira em sua diversidade linguística e cultural.

6. Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar – Geni Núñez

Escrito por Geni Núñez, escritora, ativista indígena Guarani e psicóloga, Descolonizando afetos propõe uma profunda reflexão sobre os modos de amar e se relacionar, desafiando padrões coloniais, monogâmicos e binários. A autora dialoga com a tradição guarani para questionar a lógica da monogamia ocidental, ressignificar os afetos como práticas coletivas e políticas, e apresentar formas mais livres, plurais e enraizadas de amar.

Mesmo caminhando pela poesia e pela narrativa pessoal, os textos de Geni conectam-se com uma análise histórica e sociológica — mostrando como a colonização impôs normas afetivas excludentes e hierarquizadas. O livro é indicado para adolescentes, jovens e adultos, especialmente aqueles interessados em educação antirracista, questões de gênero, sexualidade e epistemologias indígenas em salas de aula e rodas de conversa.

Por que ler literatura indígena brasileira?

Por que ler literatura indígena brasileira?

Ler literatura indígena é abrir caminhos para enxergar o Brasil sob uma perspectiva ancestral, diversa, resiliente e profundamente conectada com a terra. As obras apresentadas neste artigo revelam a força de narrativas que, por muito tempo silenciadas, hoje emergem com potência e conquistam cada vez mais espaço e reconhecimento.

Desde 2008, com a promulgação da Lei nº 11.645, tornou-se obrigatória a inclusão da história e da cultura indígena nos currículos escolares. A literatura é uma das formas mais sensíveis e eficazes de promover essa inclusão, estimulando o pensamento crítico, o respeito às diferenças e o reconhecimento das múltiplas identidades que compõem o Brasil.

Ao levar essas obras para a escola, para bibliotecas ou para sua estante pessoal, você contribui para o fortalecimento das vozes dos povos originários e para a construção de uma sociedade mais justa, plural e conectada com suas raízes.

Na Abraço Cultural, acreditamos que o diálogo entre culturas é um pilar fundamental para a transformação social. Promovemos o encontro entre saberes migrantes e originários do Sul global a partir de uma abordagem que atravessa a decolonialidade nos nossos cursos de árabe, espanhol, francês e inglês. Acreditamos que valorizar a literatura indígena é também um ato de escuta, de aprendizado e de resistência.

Quer continuar explorando?

Visite o acervo do Museu das Culturas Indígenas, em São Paulo, que oferece exposições, oficinas e uma sala inteiramente dedicada à leitura de obras indígenas ou a Aldeia Marakanã, no Rio de Janeiro, que realiza cursos, eventos e promove o compartilhamento das culturas originárias no coração da cidade. E acompanhe os conteúdos da Abraço Cultural, que reúne iniciativas educativas, culturais e formativas voltadas para uma educação antirracista, decolonial e plural.


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