Dia da África: 25 de Maio e a importância da cultura africana para o Brasil

23.05.2025

Imagem do continente africano para simbolizar o Dia da África

No dia 25 de maio celebra-se o Dia da África, também conhecido como o Dia da Libertação Africana. A data, que foi instituída pela ONU em 1972, visa homenagear o dia da criação da OUA (Organização da Unidade Africana), substituída em 2002 pela União Africana.

A OUA foi fundada em 1963, em uma época em que diversos países do continente africano buscavam sua independência. A organização tinha como objetivo principal a busca por união, desenvolvimento, liberdade e democracia, além de lutar contra a colonização europeia que assolava o continente há séculos.

Em alguns países da África, como Gana, Mali, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue, o Dia da África é feriado nacional. No Brasil, embora a data não seja feriado, diversas instituições aproveitam a ocasião para relembrar a importância da cultura africana na história brasileira.

A importância da cultura africana na formação do Brasil como conhecemos hoje

Você sabia que cerca de 27% da população brasileira têm origens africanas? Os dados são de um estudo genético feito por pesquisadores da USP, divulgado na revista científica Science. A pesquisa também revelou que as pessoas com maiores porcentagens de ancestralidade africana estão no Nordeste do país.

Para além de dados da composição genética, é certo dizer que a cultura brasileira é marcada pela influência da cultura africana em diversos aspectos. Grande parte da trajetória dessa influência deriva de anos de violência marcada pela história da escravidão e colonização no país, e trouxe, de maneira forçada, milhares de africanos escravizados para o Brasil.

Seja na culinária, na música, na religião ou nas festas populares, as tradições africanas foram incorporadas, adaptadas e celebradas, tornando-se parte essencial da identidade brasileira. Em celebração ao Dia da África, neste artigo, vamos entender melhor um pouco mais sobre essa influência.

Culinária

A comida também é política e evidencia pedaços da nossa história. É impossível falar da influência da cultura africana no Brasil sem mencionar o legado da gastronomia em nosso país. Muitos dos pratos típicos brasileiros possuem suas raízes na culinária africana, trazido especialmente por mulheres negras que, em meio à uma dinâmica de poder opressiva, precisavam cozinhar para os donos de terras e escravocratas do país.

Alguns dos principais pratos e ingredientes diretamente influenciados pela culinária africana:

Azeite de dendê — originário da África Ocidental, o azeite de dendê é um ingrediente fundamental na cozinha nordestina, especialmente a baiana. Seu sabor marcante é base para pratos como o vatapá, caruru e moqueca, trazendo uma identidade única à gastronomia brasileira.

Feijoada — embora tenha raízes no período colonial, a feijoada é uma adaptação de pratos africanos feitos com feijão e carne de porco, incorporando ingredientes e técnicas trazidas pelos africanos escravizados.

Quiabo — vegetal típico da culinária africana, foi incorporado aos pratos brasileiros, especialmente em ensopados, como o caruru e o frango com quiabo, com textura e sabor bem característicos.

Inhame e mandioca — esses tubérculos, muito usados no Sul da África, são ingredientes-chave em diversas receitas brasileiras, como o pirão e a farinha de mandioca.

Música e dança

O samba, o principal gênero musical do Brasil, é um exemplo claro da forte influência africana no país. Afinal, o ritmo originou-se da cultura afro-brasileira, nos batuques e nas rodas musicais frequentadas maioritariamente por pessoas negras, no século XX.

A percussão, os instrumentos como o atabaque e o ganzá, e a forma de cantar e dançar tem clara inspiração nas culturas africanas, especialmente dos povos bantos e iorubás. 

Outros ritmos e danças brasileiras influenciadas pela cultura africana:

Capoeira — mais que uma dança, a capoeira é uma mistura de luta, dança e jogo. Originou-se nos quilombos e comunidades de escravizados, com forte base nos ritmos, movimentos e toques de instrumentos africanos.

Maracatu — praticado no Nordeste, especialmente em Pernambuco, o maracatu tem raízes nas coroações reais africanas e na cultura afro-brasileira. A dança é acompanhada por batuques e cantos que reverenciam ancestrais.

Jongo — dança tradicional afro-brasileira originada no Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo), o jongo envolve cantos, tambores e uma roda de dança, preservando elementos culturais africanos e é ancestral do samba.

Religião e fé

Quando falamos de religião, a presença africana no Brasil é muito clara nas chamadas religiões de matriz africana. Um dos aspectos mais visíveis dessa influência é o sincretismo, a mistura das crenças africanas com as tradições católicas que predominavam por aqui. Entre as mais conhecidas estão o candomblé e a umbanda.

O candomblé, para muitos historiadores, é a religião que mais conseguiu manter suas raízes africanas intactas. Com origens nas culturas iorubá e banto, ele traz uma visão de mundo onde Olorum é a divindade maior, e os orixás representam as forças da natureza que regem a vida.

Já a umbanda surgiu no Brasil como uma religião que combina elementos do candomblé, do espiritismo e do catolicismo. Embora também cultue Olorum, seu número de orixás é menor, e ela incorpora outras entidades espirituais.

Folclore e festas populares

Nas narrativas populares, personagens e mitos de origem africana se misturam com lendas indígenas e europeias, formando um rico mosaico cultural. Por exemplo, muitas crenças e contos sobre espíritos da natureza, seres encantados e elementos místicos refletem influências dos cultos africanos aos orixás e ancestrais.

 A valorização da ancestralidade, o respeito aos elementos da natureza e o sentido de comunidade presentes no folclore brasileiro têm forte base nas tradições africanas e indígenas.

Algumas dessas crenças se refletem diretamente em festas populares brasileiras, como a :

  • Festa de Iemanjá (comemorada em 2 de fevereiro) celebra a orixá dos mares e é um dos eventos mais populares, especialmente na Bahia e no Rio de Janeiro, com oferendas, danças e cantos que remontam às tradições africanas.
  • Festa do Congo e Festa de São Benedito (no Maranhão e em outras regiões) são exemplos de celebrações que misturam elementos católicos com manifestações culturais africanas, com danças, músicas e rituais que homenageiam a ancestralidade negra.
  • Círio de Nazaré, embora católico, apresenta influências de ritmos e expressões culturais africanas na música e na dança que acompanham a festa.
  •  Carnaval, que apesar de ter fortes influências europeias, conta os desfiles de escolas de samba, que sempre homenageiam cultos e lendas de origem africana, especialmente ligados a religiões de matriz afro.

Moda

A moda africana tem exercido uma influência profunda e duradoura na cultura brasileira, refletida não apenas nas roupas, mas também nas cores, tecidos, acessórios e expressões de identidade que fazem parte do cotidiano de milhões de brasileiros. Essa contribuição é resultado direto das conexões históricas e culturais entre o continente africano e o Brasil, especialmente por meio da diáspora africana.

Tecidos como o ankara, o kente e o bogolanfini (também conhecido como “mud cloth“) tornaram-se populares em coleções de estilistas afro-brasileiros e até de grandes marcas nacionais. Esses tecidos, além de belos e vibrantes, carregam significados culturais profundos, que remetem à ancestralidade, à resistência e à celebração das raízes africanas.

Além dos materiais, a moda africana influencia também os cortes, os turbantes, os adornos e a valorização da estética negra. Em estados como a Bahia, por exemplo, o uso do turbante e das saias rodadas das baianas é um símbolo não apenas de religiosidade e tradição, mas também de afirmação cultural. Confira alguns exemplos:

Tecidos africanos tradicionais:

  • Ankara (também conhecido como tecido wax) usado em vestidos, camisas e saias;
  • Kente, tradicional de Gana, presente em acessórios e detalhes de roupas;
  • Bogolanfini (mud cloth), originário de Mali, usado em roupas e decoração.

Acessórios e adereços:

  • Turbantes como símbolo de resistência e identidade afro-brasileira;
  • Colares de miçangas coloridas, braceletes e brincos inspirados na estética africana;
  • Uso de búzios como elemento decorativo e espiritual.

O Dia da África é mais do que uma data no calendário; é um momento para valorizar a riqueza cultural e histórica que a herança africana trouxe para o Brasil. Seja na gastronomia, nas manifestações musicais, nas religiões de matriz africana ou nas festas populares, essa influência moldou e continua a fortalecer a identidade brasileira. 

Reconhecer a importância do Dia da África é reconhecer a diversidade e a resistência de um povo que, apesar das adversidades, construiu e enriqueceu a cultura do Brasil que conhecemos hoje.


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