Tradições de Natal ao redor do mundo

12.12.2024

Com o fim do ano se aproximando, muitas pessoas começam a se preparar para os costumes e tradições de Natal. Apesar da celebração ser uma data amplamente associada ao cristianismo, suas comemorações podem variar amplamente de acordo com a cultura, os costumes de cada país, e por vezes, até mesmo a particularidade de cada família.

A palavra “Natal”, que possui origem no latim natalis, significa “relativo ao nascimento”. Além de todo seu significado religioso, as tradições de Natal ao longo do tempo e de processos como a colonização, o imperialismo e a globalização, acabaram adquirindo também uma popular conotação cultural, fazendo com que a festa conte com a participação de pessoas com diferenças crenças e seja celebrada de distintas forma em todos os continentes.

Para muitos, a festividade remonta a um tempo de solidariedade, esperança, reflexão e união. O Natal também combina elementos espirituais e sociais que remetem ao compartilhamento, a preservação da boa convivência e dos bons sentimentos.

Celebrações especiais em diferentes religiões

Você sabia que Jesus Cristo foi um profeta judeu que viveu boa parte de sua vida na Palestina? Embora os judeus não celebrem o Natal, a figura de Jesus é respeitada por essa comunidade, que tem seu próprio evento em dezembro: o Hanukkah.

O Hanukkah, também conhecido como “Festa das Luzes”, comemora a luta do povo judeu pela liberdade ocorrida em 164 a.C., quando os judeus se rebelaram contra o domínio helenístico e rededicaram o Templo Sagrado em Jerusalém. O principal símbolo dessa festividade é o candelabro de nove braços, chamado menorá. Durante os oito dias de celebração, é tradicional que as famílias judaicas acendam uma vela do candelabro a cada noite.

No islamismo, embora os muçulmanos reconheçam Jesus como um dos grandes profetas, a figura central da religião é Muhammad (ou Maomé). A celebração do Ramadã, com seus sentimentos de reflexão, união comunitária e cultivo de bons valores, tem semelhanças com o espírito do Natal em sua essência. O Ramadã é um mês sagrado dedicado à reflexão espiritual e ao fortalecimento da autossuperação, marcando a revelação do Alcorão a Muhammad. Como segue o calendário lunar islâmico, o Ramadã acontece em um período móvel, variando a cada ano. Durante esse mês, os fiéis praticam o jejum diário, que se estende do amanhecer ao anoitecer, como um ato de purificação espiritual e solidariedade com os menos favorecidos. Por isso, embora tenha algumas semelhanças, o Ramadã na maioria dos anos não acontece no fim do ano.

Por outro lado, no budismo, muitos fiéis que não nasceram na religião mas a adotaram ao longo da vida, celebram o Natal com suas famílias, enfatizando valores universais como o amor, a união e a esperança. Além disso, durante o mês de dezembro, os budistas vivem a “Festa da Iluminação de Buda”, uma data que simboliza a iluminação espiritual de Sidarta Gautam.

Natal em algumas partes da América Latina

A América Latina carrega uma rica herança cultural influenciada por diversos povos ao longo da história. No entanto, muitas tradições natalinas na região refletem a forte herança católica trazida pelo colonialismo europeu, que moldou práticas culturais e religiosas locais, conectando as festividades ao catolicismo.

No México, por exemplo, é comum que muitas famílias cantem e brindem à meia-noite o nascimento do menino Jesus. Outro costume tradicionalmente mexicano são as “posadas”, que retratam a peregrinação de Maria de São José.

Países como Brasil, Argentina e Peru possuem a tradicional “Missa do Galo”, uma celebração especial de uma missa católica que ocorre na virada do dia 24 para o dia 25 de Dezembro, lembrando o nascimento de Jesus Cristo. 

Na Colômbia, muitos fiéis participam de missas voltadas para Imaculada Conceição, além de realizarem novenas e rezarem o terço durante esse período.

Além disso, enquanto boa parte das pessoas associam o Papai Noel ao ato de presentear, parte da Colômbia ainda preza uma tradição quase esquecida pelo resto mundo: escrever cartas para o Menino Jesus, agradecendo pelas bênçãos do ano vigente e pedindo por seus maiores presentes e sonhos.

"Noche de las Velitas", celebração de Natal popular na Colômbia

No país também há uma festividade conhecida como a “Noche de las Velitas”, importante celebração de fim de ano que atrai milhares de turistas para participar do hábito de acender velas e luzes nas varandas das casas, praças e outros locais públicos junto com conhecidos e vizinhos. Comemorado em 7 ou 8 de dezembro, dependendo da região, o feriado é para muitos o início das festividades natalinas da Colômbia.

Kwanzaa, uma celebração de diásporas africanas

Kwanzaa, uma festividade popular em comunidades negras no Natal

O Kwanzaa é uma celebração cultural afro-americana que promove a conexão da comunidade negra nos Estados Unidos com sua herança cultural e ancestralidade majoritariamente africana. Diferente do Natal, o Kwanzaa não é uma festividade religiosa, mas sim uma ocasião que busca resgatar o orgulho da cultura negra e fortalecer a identidade comunitária.

A palavra “Kwanzaa” deriva da expressão swahili matunda ya kwanza, que significa “primeiros frutos”, remetendo à tradição africana de celebração da colheita e da abundância. A festividade ocorre anualmente de 26 de dezembro a 1º de janeiro, com cada dia dedicado a um dos sete princípios fundamentais, conhecidos como os Nguzo Saba, que visam fortalecer valores como unidade, autossuficiência e criatividade na comunidade.

Embora algumas pessoas se refiram ao Kwanzaa como o “Natal afro-americano”, a celebração tem um caráter distinto, centrado em elementos culturais. Durante o Kwanzaa, é comum que as casas sejam decoradas com símbolos africanos, as famílias se reúnam para compartilhar refeições especiais e presentes simbólicos sejam trocados, representando gratidão e propósito.

Importante destacar que o Kwanzaa não substitui o Natal. Muitas pessoas que celebram o Kwanzaa também comemoram o Natal, já que o foco desta festividade é cultural, e não religioso, permitindo que ambas as celebrações coexistam em harmonia.

Embora o Kwanzaa tenha surgido nos Estados Unidos e seja mais amplamente celebrado pela comunidade afro-americana, ele não se restringe apenas a esse país. A celebração também é reconhecida por comunidades afrodescendentes em outros países, como Canadá, Reino Unido e algumas nações do Caribe, onde há diásporas significativas de pessoas de origem africana.

Natal na África

O Natal no continente africano é celebrado de maneiras muito diversas, refletindo a enorme riqueza cultural, religiosa e histórica da região. Em muitos países africanos com forte presença cristã, como Nigéria, Etiópia, Quênia, África do Sul e República Democrática do Congo, o Natal é uma data importante, marcada por celebrações que integram tanto elementos religiosos quanto culturais locais.

Na Etiópia e na Eritreia, onde prevalece o cristianismo ortodoxo, o Natal, conhecido como Genna, é comemorado em 7 de janeiro, seguindo o calendário juliano. A data é celebrada com jejum, procissões religiosas e serviços em igrejas que remontam aos primeiros séculos do cristianismo.

Na Nigéria, o Natal reúne comunidades cristãs em celebrações vibrantes que incluem cultos religiosos, danças, festivais e grandes refeições familiares. É comum que as famílias viajem para suas vilas de origem, reforçando laços comunitários e familiares.

Na África do Sul, influenciada pelo colonialismo europeu, o Natal ocorre em pleno verão, o que resulta em tradições únicas, como piqueniques ao ar livre e celebrações em praias.

Já em países predominantemente muçulmanos ou de outras religiões tradicionais africanas, como Senegal ou Marrocos, o Natal é celebrado por uma minoria cristã, mas as tradições locais, como músicas e danças, podem aparecer nas comemorações.

Embora o colonialismo tenha introduzido o cristianismo em muitas regiões africanas, as comunidades locais frequentemente ressignificaram as celebrações, incorporando elementos de suas próprias culturas e tradições. Essa diversidade faz do Natal na África uma demonstração da riqueza cultural do continente e da capacidade de adaptação e resistência de seus povos.

Natal no Oriente Médio

No Oriente Médio, o Natal é celebrado principalmente por comunidades cristãs, que embora minoritárias, possuem uma presença significativa em países como Palestina, Líbano, Síria, Egito, e Jordânia. Nessas regiões, as celebrações mesclam tradições locais com práticas cristãs mais amplas.

Em Belém, cidade na Palestina reconhecida como o local de nascimento de Jesus, o Natal é uma ocasião especial. A Igreja da Natividade, construída no local onde se acredita que Jesus nasceu, é o centro das celebrações. Procissões, missas solenes e apresentações de corais marcam o período, atraindo tanto cristãos locais quanto peregrinos de todo o mundo.

No Líbano, onde os cristãos maronitas formam uma parte significativa da população, as festividades incluem iluminações públicas, feiras natalinas e missas da meia-noite, enquanto famílias se reúnem para partilhar refeições tradicionais. Na Síria e no Egito, também há celebrações natalinas, especialmente entre os cristãos ortodoxos, que seguem o calendário juliano, comemorando o Natal em 7 de janeiro.

Apesar dos desafios políticos e sociais que muitos países da região enfrentam, o Natal no Oriente Médio é um momento de esperança e renovação, com tradições que carregam séculos de história e fé.

Então, é Natal?

As tradições de Natal ao redor do mundo muitas vezes refletem processos históricos marcados pelo colonialismo e imperialismo, que impuseram culturas e práticas religiosas a diferentes povos. Embora muitas comunidades tenham ressignificado essas celebrações, incorporando elementos de suas tradições locais, é importante reconhecer que o domínio cultural ocidental foi determinante na disseminação do Natal como conhecemos hoje.

Apesar desse legado complexo, o período natalino pode ser visto como uma oportunidade para questionar essas imposições históricas e renovar valores universais como a união, a generosidade e a esperança, enquanto se busca maior respeito pela diversidade cultural e pela história de resistência dos povos.


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